Como trazer a Diversidade de Raça para sua Empresa?

MAYA Capital
5 min readOct 8, 2020

Muitos falam de seu benefício, mas antes, vale darmos um passo atrás para entender como aplicá-la.

A pauta de diversidade sempre se destacou para nós aqui na MAYA. Recentemente, analisamos dados de diversidade em startups, fundos e corporações, e (como já imaginávamos), os indicadores demonstraram necessidade evidente de melhoria. Dessa discussão, surgiu o questionamento: como podemos apoiar as empresas do nosso portfólio a aumentar a diversidade nos seus times? Foi aí que decidimos dar um primeiro passo nesse sentido, estabelecendo uma parceria com o Instituto Identidades do Brasil, que facilitou o treinamento ‘ABC da Raça’ para o nosso time e todos os MAYANs (como chamamos os membros de nossas investidas).

Reunindo termos e conceitos da pauta racial, a consultora Heloise Costa (a Helô) expôs tanto a teoria, quanto exemplos práticos de questões que ainda são tabu para discussão sobre raça e racismo no Brasil. A ideia desse artigo é compartilhar com vocês um pouco dos aprendizados e discussões que tivemos durante o treinamento e como inseri-los em nossas relações pessoais e profissionais.

Conceitos e Dados da Pauta Racial

A primeira mensagem sobre a pauta racial é da importância dela ser contínua e de todos. Todos têm lugar de fala, que é baseado nas experiências sociais e vieses individuais. A filósofa e escritora Djamila Ribeiro deu notoriedade para essa expressão no Brasil, mas muitos ainda a confundem com protagonismo. Esse sim é um termo que se refere às situações que incidem somente sobre você.

A diversidade funciona como uma riqueza. Todos somos diversos, independente do nosso pertencimento — de classe social, raça, gênero etc. Olhando para nossa estrutura social, percebemos que algumas diversidades são menos aceitas do que outras. Diversidade é importante para fomentar o encontro de pessoas com olhares diferentes, o que viabiliza soluções inovadoras e pensamentos diferentes/criativos.

Praticar inclusão é primeiramente entender diversidade e criar mecanismos para que essas diversidades sejam recebidas e aceitas (na sua empresa, por exemplo). É construir um ambiente que permita que as pessoas sintam-se à vontade para serem elas mesmas. A inclusão acontece quando:

  • Olhamos para os diversos pilares (raça, etnia, gênero, classe social, capacidade física e intelectual, orientação sexual, religião etc);
  • Estabelecemos metas (para aumentar o contingente de cada pilar);
  • Definimos respectivos prazos e investimento (financeiro e humano), e;
  • Garantimos o entendimento das intersecções (olhar os pontos de confluência).

O foco do treinamento (e deste artigo) foi a abordagem da diversidade do ponto de vista do pilar racial. Helô deixou claro que no âmbito da biologia só existe uma raça, a humana. Mas quando trazemos a discussão de raça, estamos falando de uma característica social, um critério das características físicas visíveis.

Alguns conceitos importantes da pauta racial são:

  • Preconceito: juízo de valor, baseado em estereótipos;
  • Discriminação: tratamento diferenciado a membros de grupos distintos, tem como requisito poder;
  • Racismo: envolve estrutura de poder (pessoas brancas podem ser discriminadas, mas não sofrem racismo reverso);
  • Branquitude (por Lia Schucman): condição ligada a cor de pele e que coloca o branco historicamente como dotado de privilégios materiais ou simbólicos.

O Brasil é o segundo país em tamanho absoluto da população negra do mundo (somente atrás da Nigéria), mas somos o maior abismo negro, se compararmos à população negra com a representatividade em cargos executivos. Helô destacou que a população negra, que é maioria no país (55.8% se declaram como negros), tem uma participação grande no consumo: movimentam R$1.9 tri por ano e está se educando e profissionalizando (triplicou o número de negros nas universidades na última década). Por outro lado, essa parcela da população não está sendo representadas no ambiente profissional, principalmente em cargos de liderança (ocupa apenas 5% dos cargos executivos no país).

Como garantir práticas antirracistas na sua empresa

Para o ID_BR, esse abismo existe por conta do preconceito, e há como eliminar essas práticas dentro das empresas. Um passo inicial é a disseminação da educação antirracista. Entendemos que não combatemos o racismo só com repúdio. Combatemos com ações contínuas. Os líderes das empresas precisam parar com sentimento de culpa e transformar isso em responsabilidade. Todos têm responsabilidade no contexto de desigualdade racial. Ser branco numa sociedade racista gera privilégios e precisa gerar um processo de co-responsabilidade. Começa com a aceitação e depois avança para o processo de reparação.

Helô mostrou aos participantes ações práticas que devem ser tomadas na direção da reparação e vamos compartilhá-las com vocês aqui:

  • Revise filtros de processo seletivo (por exemplo: excluindo a obrigatoriedade do inglês);
  • Coloque metas de contratação e desenvolvimento, coletando dados e acompanhando as evoluções. É interessante comparar os resultados com outras empresas do mercado;
  • Nas campanhas publicitárias, tenha negros como protagonistas de beleza e empoderamento;
  • Dedique investimento para empreendedores negros;
  • Busque ativamente mais especialistas negras para serem entrevistadas e falar com autoridades em áreas diversas;
  • Procure desenvolver programas especificos para contratação de negros (como o Programa de trainee para negros da Magazine Luiza);
  • Monte um pipeline de candidatos mais diverso, buscando talento em associações específicas (como a Olabi, PretaLab, Indique uma Preta e Empregue Afro);

Benefícios que a diversidade traz para o seu time

Esses esforços são sugestões de como a sua empresa pode montar um time mais diverso no pilar racial. Na medida em que os objetivos e metas de diversidade e inclusão se tornam mais difundidos, as empresas vão descobrindo práticas que funcionam melhor para os seus contextos. As dicas (sozinhas) não vão resolver o problema de representatividade racial desigual, mas podem ser um ponto de partida para a sua organização se tornar mais diversa.

De acordo com uma pesquisa de diversidade e inovação da consultoria BCG, o aumento da diversidade na liderança das empresas gera maior inovação e, consequentemente, melhor performance financeira. O estudo mostrou que as empresas com times de liderança que têm diversidade acima da média reportaram receita de inovação 19% mais alta que as empresas cujo time de liderança possui diversidade abaixo da média (45% da receita total versus 26%). Pessoas com backgrounds e experiências diversas enxergam soluções diferentes para um mesmo problema, aumentando as chances de uma dessas conclusões ser mais adequada. Num ambiente de mudanças constantes, o maior nível de diversidade posiciona melhor a empresa para adaptar-se às novas realidades.

Esperamos que os conceitos e dicas práticas compartilhadas neste artigo engajem e motivem vocês a aprender e implementar a pauta antirracista nas suas empresas. Que os aprendizados aqui compartilhados sejam transformados em metas, prazos e indicadores. Que os times e a liderança digam SIM À IGUALDADE RACIAL a partir de ações, iniciativas e políticas contínuas, e não apenas em datas e ocasiões pontuais. Reconhecemos que ainda existe muito a ser feito, e o processo de melhoria deve ser contínuo.

Nos vemos no próximo artigo. Se tiverem sugestões de temas que gostariam de aprender ou dúvidas sobre esse conteúdo acima, fiquem à vontade de nos mandar no contact@maya.capital.

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